Palavra Mágica

abril 15, 2009

Numa equipe de basquete, difícil para o técnico é administrar os interesses de cada atleta, suas ambições, seu ego e a disputa pessoal. Quando diante de tal situação o melhor a fazer é procurar agir e tomar decisões baseadas em critérios e estatísticas. Além disso, demonstrando competência, liderança e honestidade perante o grupo, as chances de o técnico chegar ao final da temporada com os objetivos alcançados são muito grandes. Mesmo em nossos lares muitas vezes temos que administrar vaidades entre nossos familiares e tomar decisões diante de problemas que enfrentamos com pessoas do mesmo sangue, imagine em um trabalho coletivo, com pessoas sem laço afetivo, sem afinidade e de personalidades diferentes.

Este é um dos grandes desafios de uma equipe de basquete, enfrentar e resolver problemas individuais e coletivos que dependem muito da ação e do desempenho do técnico, do capitão da equipe ou de um líder do grupo. Agora, para facilitar e resolver esta situação, normal em qualquer trabalho de esporte coletivo, existe uma palavra mágica consensual entre sociólogos, educadores, estudiosos, pesquisadores, psicólogos e principais lideranças da atualidade: Motivação. A motivação é um sentimento positivo que quando estimulado corretamente cria uma sensação de utilidade individual com reflexos extremamente úteis na criação e na produção de uma equipe. Uma verdadeira equipe é aquela que uniformemente, sem desequilíbrios e contando com o ápice do esforço e da capacidade de cada integrante, caminha rumo ao sucesso ou à conquista do objetivo traçado.

Só se consegue este resultado quando os atletas experimentam o sentimento de utilidade. Desenvolver esta consciência no grupo, de que cada um é extremamente útil e indispensável, leva-nos ao resultado esperado. Este trabalho, de conscientizar os participantes de sua utilidade e importância, desperta nos atletas sentimentos difíceis de gerar nos dias de hoje, tais como: solidariedade, espírito de equipe, desprendimento pessoal, compreensão, aceitação de adversidades, amizade e companheirismo. A dinâmica deste empreendimento, de construção de uma verdadeira equipe, é difícil e dolorida, principalmente porque todos têm que ter disposição de abrir mão de certas prerrogativas (egoísmo, vaidade, falta de humildade, etc.) para o sucesso do grupo. Este belíssimo trabalho tem uma dinâmica grupal muito prática, onde a principal meta é o objetivo comum da equipe, o sucesso do projeto, ou ainda a realização de um sonho.

Muitas equipes se tornaram vencedoras com esta receita; muitas famílias conheceram uma maior felicidade seguindo estes passos. A verdade é que quando o ser humano se sente útil e motivado, cria-se um vínculo positivo entre os membros de uma equipe, fazendo com que os sentimentos negativos, que sempre existirão, fiquem em segundo plano e passem a ser superados pelo objetivo traçado. Isto certamente fará com que o objetivo comum seja alcançado e realizado com eficiência e prazer, transformando os sonhos individuais ou coletivos em grata realidade. É meramente impossível atuar e se dar bem em um esporte coletivo sem ter o sentimento do companheirismo, da camaradagem, da amizade e do respeito.

Termino, com uma frase que se encaixa perfeitamente para a ocasião: “Um sonho sonhado só é só um sonho. Um sonho sonhado junto pode se tornar uma grata realidade”

Marco Antonio Aga

Briga de gigantes

abril 1, 2009

A LNB vem promovendo o NBB (Novo Basquete Brasil) com muita sabedoria, organização e competência. Desde seu início a competição está muito equilibrada, bem disputada e com vários jogos sendo decididos na última bola ou na prorrogação. Discordo de alguns comentaristas que afirmam que o nível técnico não é dos melhores. Pergunto: qual equipe tradicional do Brasil e com um elenco tecnicamente forte ficou de fora do NBB? Nenhuma. Isso quer dizer que com raras exceções, o campeonato está sendo disputado pelos melhores times do país da atualidade. Concordo com a opinião de algumas pessoas que dizem que o nível técnico poderia ser bem melhor se tivéssemos dois jogadores estrangeiros em cada equipe. Mas, com a crise financeira mundial que estamos atravessando e conseqüentemente com a instabilidade da moeda americana, mais a enorme burocracia para se contratar um atleta estrangeiro, a maioria das equipes optou em reforçar seu elenco apenas com jogadores brasileiros.

Mesmo assim, temos no NBB alguns estrangeiros de excelente qualidade técnica, três jogadores brasileiros que estiveram recentemente na NBA e vários jogadores integrantes da seleção brasileira. Mesmo sabendo que ainda não é o ideal, só esses motivos comprovam que o NBB é uma competição de bom nível técnico e com grandes expectativas de melhorar ainda mais. Depois de encerrado o primeiro turno, os times considerados favoritos para chegarem aos play-offs na opinião da imprensa especializada confirmaram as previsões. Matematicamente todas as equipes ainda têm chances de classificação, mas como no basquete dificilmente a “zebra” aparece, principalmente no que diz respeito à classificação para os play-offs, a tendência é que Flamengo/Petrobras, Universo/Brasília, Minas Tênis, Joinville, Winner/Limeira e Vivo/Franca cheguem as quartas de final. Se isso realmente acontecer, restarão apenas duas vagas para as outras nove equipes, deixando a disputa muito acirrada, interessante e provavelmente devendo ser definida apenas nas últimas rodadas.

Tudo leva a crer que as equipes consideradas favoritas lutem até o final do returno para permanecer nas primeiras colocações, deixando para as outras equipes uma verdadeira briga de gigantes na luta por uma das vagas aos play-offs. Somente por este detalhe, o NBB já comprova que tem equilíbrio técnico, muita competitividade, rivalidade, culminando com uma demonstração que o nosso basquete continua forte, vivo, vibrante e de muita qualidade técnica. Voltando um pouco ao passado, lembro-me de campeonatos nacionais que fizeram história, com confrontos marcantes e emocionantes, partidas memoráveis e inesquecíveis, que até hoje estão vivas na memória de muitos amantes do basquete. Nas dezoito edições promovidas pela CBB, o campeonato nacional foi ganho até agora por apenas quatro Estados da Nação: São Paulo (11 títulos), Rio de Janeiro (4 títulos), Minas Gerais (1 título), Rio Grande do Sul (1 título), mais o Distrito Federal (1 título).

Entre os clubes, Franca foi campeão seis vezes e o Vasco da Gama duas vezes. Voltando aos dias atuais, não resta dúvida que poderíamos ter mais clubes tradicionais disputando o NBB, como a Ulbra (RS), a Unitri (MG), ou até clubes tradicionais do nosso futebol como Corinthians, Palmeiras, Vasco da Gama, Botafogo, etc. Mas acho que isso é só uma questão de tempo, porque se o NBB continuar sendo uma competição bem organizada, com visibilidade e retorno de mídia para os patrocinadores, a volta dessas equipes acontecerá muito em breve.

Afirmo isso porque este é o décimo segundo campeonato nacional que participo, antes do Assis Basket já havia dirigido as equipes de Joinville (SC), Corinthians (RS), Casa Branca (SP) e Uberlândia (MG), e na maioria das vezes em que o campeonato foi atrativo e de bom nível técnico, a briga para não ficar de fora era intensa, pois havia mais equipes interessadas em participar do que o próprio número de vagas, deixando a competição elitizada e cobiçada pelos principais times do país.

Mudança geográfica

março 24, 2009

O NBB da Liga Nacional de Basquete (LNB), primeiro campeonato nacional promovido e organizado pelos clubes, com apoio da Rede Globo de Televisão, começou dia 28 de janeiro prometendo ser um novo marco do basquete brasileiro. Domingo, 22 de março no Maracanãzinho, foi realizado com muito sucesso o Jogo das Estrelas, evento que marcou o encerramento do primeiro turno da competição. O NBB é disputado por quinze clubes, representando seis Estados do país: Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, mais o Distrito Federal.

Além de ser dos melhores campeonatos de todos os tempos uma curiosidade vem chamando a atenção da imprensa esportiva especializada em basquete: nenhuma equipe paulista terminou o turno entre as quatro primeiras colocadas, posições que foram ocupadas em números de derrotas por Flamengo (RJ), Joinville (SC), Brasília (DF) e Minas Tênis (MG). Historicamente é um dado interessante porque desde criado o campeonato nacional, em 1990, sempre tivemos equipes paulistas entre os primeiros colocados. Promovido pela CBB até o ano passado, os campeões brasileiros foram: Franca (1990 e 1991), Rio Claro (1992), Franca (1993), Pitt/Corinthians/RS (1994), Rio Claro (1995), SC Corinthians Paulista (1996), Franca (1997, 1998 e 1999), Vasco da Gama (2000 e 2001), Bauru (2002), Coc/Ribeirão (2003), Unitri/Uberlândia (2004), Telemar/RJ (2005), Universo/Brasília (2007) e CR Flamengo (2008). Na edição de 2006 ainda não temos oficialmente um campeão.

A LNB foi fundada para organizar e promover os próximos campeonatos nacionais, com a expectativa e a esperança de fazer com que o basquete volte a ser uma das principais modalidades esportivas do país, descentralizando e democratizando todas suas ações e decisões. Isto parece claro com a classificação final do primeiro turno, afinal, os quatro primeiros colocados não são de São Paulo, e isto permite assegurar que o mapa geográfico das principais forças do basquete brasileiro sofreu mudanças significativas nos últimos anos. Com um adendo, mudou para melhor, porque quanto maior o número de equipes de alto nível em diferentes Estados brasileiros, melhor será para o futuro de nossa modalidade.Após dois meses de competição, não tenho dúvidas que o NBB é o recomeço de novos e bons tempos para o basquete brasileiro.

A realização do Jogo das Estrelas, que contou ainda com a disputa do campeonato de 3 pontos e de enterradas, comprova ainda mais minha afirmação. O campeonato começou com cinco grandes favoritos apontados pela imprensa especializada: Universo, Flamengo, Limeira, Franca e Minas Tênis. Com o passar dos jogos Joinville  mostrou que é um dos grandes favoritos, liderando o campeonato por diversas rodadas. Nesta semana começa o segundo turno, tudo está indefinido, mas dificilmente as seis equipes acima estarão fora dos play-offs, portanto, teremos nove equipes lutando por duas vagas. Briga de gigantes.

Independente de quem seja o campeão, a competição é bem organizada, de bom nível técnico, com boa visibilidade e um ótimo retorno de mídia para os patrocinadores. A participação de clubes de diferentes regiões do Brasil e a possibilidade de contar com a presença de outras equipes do país, que ainda estão fora, em futuras competições, faz do NBB, mesmo recente, decisivo para a formação de um novo mapa geográfico do basquete brasileiro, na força, no potencial, na competitividade, na estrutura, no investimento e nas futuras conquistas.

Universidade & Esporte

março 18, 2009

Semana passada estive a primeira vez na cidade de Lajeado, Rio Grande do Sul, disputando mais um jogo do NBB, por sinal considerado um dos melhores campeonatos nacionais dos últimos tempos. Fiquei impressionado com a estrutura da Univates, principalmente seu complexo esportivo, que conta com um excelente ginásio de esportes. Quem quiser conhecer um pouco mais desta universidade pode acessar http://www.univates.br. Sai de lá imaginando o governo federal, com apoio do Congresso Nacional, idealizando uma lei que proporcionasse vantagens fiscais para todos os estabelecimentos de ensino do país que investissem em esporte de alto-rendimento. Seria unir o útil ao agradável, porque aliar atividades esportivas e competições de alto nível com faculdades e universidades seria o caminho e o começo de uma “revolução” no esporte brasileiro. Sem incentivo algum do governo, no basquete masculino, temos e tivemos várias entidades de ensino que colaram sua marca em uma equipe: COC, UNITRI, ULBRA, UNIVATES, UNIVERSO, UNIFEOB, UNIARA, UMC, UNISANTA, UNISC, UNIFMU, PITÁGORAS, UNIVILLE, FTC EAD e INESUL.

Não é possível que nossos políticos e governantes não tenham a sensibilidade de enxergar que através de uma política esportiva séria e verdadeira nós podemos transformar nossa educação e nosso esporte em um futuro bem próximo. O primeiro passo é fazer com que eles (presidente, governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores) coloquem nas suas pautas e agendas de trabalho uma discussão com todos os segmentos vinculados ao ensino e ao esporte brasileiro para mudarmos radicalmente a forma e a maneira de promovermos o esporte competitivo no Brasil. Imagine, com exceção do futebol, que tem uma realidade bem diferente das outras modalidades, que qualquer equipe competitiva teria que estar vinculada a uma faculdade ou universidade para disputar uma competição oficial.

Na prática, seria mais ou menos assim: o clube faz uma parceria com uma faculdade ou universidade, esta receberia incentivos fiscais e ficaria com a responsabilidade de dar toda a estrutura para o desenvolvimento do trabalho. Além da parceria, o clube ainda buscaria patrocinadores na iniciativa privada, que teriam sua marca agregada não só a uma equipe competitiva, mas também a projetos educacionais e sociais, aumentando ainda mais seu retorno de visibilidade e mídia. Tenho convicção que uma competição realizada através da união das confederações e federações esportivas com clubes e faculdades ou universidades seria o começo de uma nova era do esporte brasileiro. Fico imaginando se nossos governantes acreditassem realmente que o esporte é uma ferramenta excepcional de transformação da sociedade.

Não tenho dúvidas que nosso país, hoje, estaria muito melhor, e poderíamos até, quem sabe, ser uma potência olímpica em um curto espaço de tempo. Sei que é uma mudança radical, portanto um trabalho árduo, difícil e penoso para colocar em prática, principalmente no Brasil, onde a maioria dos políticos entende que o gasto com esporte não é investimento, mas despesa. Mesmo assim, acho que é sempre possível construir algo novo e diferente. Ainda tenho fé e esperança de um dia as coisas mudarem e a mudança virá se tivermos uma lei de incentivo fiscal que motive nossas faculdades e universidades a investirem em esporte de alto rendimento, na construção de complexos esportivos de primeiro mundo, em logística, estrutura e tecnologia.

Nada disto é utopia Tudo é realizável, mas o ponta pé inicial tem que ser dado pelas pessoas que atualmente detem o poder em suas mãos, principalmente o ministro dos esportes Orlando Silva Jr, o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, e por que não o presidente Lula, que poderiam deixar seus nomes marcados para sempre na história do esporte brasileiro.

Regra “nove”

março 11, 2009

Quero abordar outra vez um assunto que causa muita discussão, polêmica e controvérsia. Antes de tudo deixo claro que temos uma das melhores arbitragens de basquete do mundo. Tivemos e temos ótimos árbitros. Todas as vezes que temos algum árbitro brasileiro participando em competições internacionais demonstram muita qualidade, capacidade e competência. Recentemente, o coordenador de arbitragem da CBB, Geraldo Miguel Fontana, foi nomeado instrutor internacional FIBA, cargo de muita importância, porque apenas 16 pessoas entre os 213 países filiados à FIBA ocupam esta função. Fontana também é o responsável pela escala de árbitros do NBB.

O ex-árbitro Antonio Carlos Affini foi escolhido para representar a LNB (Liga Nacional de Basquete) na arbitragem do campeonato. Como nós brasileiros temos a “memória curta”, sempre que escrevo sobre arbitragem faço questão, como forma de homenagem, de citar os nomes de Alberto Lapoian, Benedito Bispo, João Paulo Sniscaldi, José de Oliveira, Manoel Tavares, Oswaldo Gelsomini e Renato Righeto, verdadeiros ícones da arbitragem brasileira. Tornar-se árbitro de basquete não é tão difícil. Basta se inscrever em um curso e estudar bastante as oito regras.

Se no final do curso for aprovado na prova pratica, teórica e também no teste físico, pronto, já pode começar a exercer a função. Agora, tornar-se um bom árbitro, com credibilidade, respeito de todos e renomado internacionalmente, aí as coisas se tornam mais difíceis. Na minha ótica, o bom árbitro é aquele que trabalha com a fictícia “regra nove”, que diz: o árbitro tem que ser humilde, inteligente, honesto, corajoso e aparecer o mínimo possível durante uma partida. Tem que atuar de maneira discreta, administrando o jogo com sabedoria, discernimento e bom senso.

O tema deste artigo, arbitragem, não importando em qual modalidade, sempre foi e sempre será motivo de muita discussão, discórdia e conflito, mas não existe esporte sem árbitro, quando ele erra, temos que acreditar que o fez de forma involuntária e imparcial, mesmo que ás vezes percamos a calma e a paciência. Com quase 25 anos de técnico de basquete, poderia comentar vários lances, alguns até inusitados, que aconteceram comigo ou com minha equipe durante uma partida, envolvendo algum árbitro, mas quero deixar registrado de público que mesmo no calor do jogo ou até no meio de uma discussão, jamais imaginei que qualquer árbitro vá para um jogo com o objetivo de fazer uma equipe vencedora e a outra perdedora.

O que questiono é por que alguns árbitros, com certeza uma pequena minoria, levam problemas ou diferenças pessoais acontecidas em jogos passados para jogos futuros. Não fosse isso, a arbitragem brasileira, que já faz tanto sucesso internacional, poderia também ser reconhecida e até muito mais respeitada pelos técnicos, jogadores e por toda a comunidade que atua no basquete brasileiro.

Filosofia de trabalho

março 11, 2009

Com já escrevi em alguns artigos anteriores, ser técnico de qualquer modalidade esportiva requer algumas qualidades pessoais que são indispensáveis para exercer a profissão: liderança, poder de convencimento, transparência, honestidade e capacidade. É um trabalho difícil. No mundo esportivo existem diferentes tipos de técnicos, de personalidades e características profissionais que não têm como ser imitadas. Todos trabalham para alcançar vitórias, mas quando não aparecem, deixam o técnico em situação muito difícil.

Durante toda temporada o técnico é julgado pela imprensa e pelos torcedores, que na maioria das vezes o julgam apenas pelos resultados obtidos, não se importando com outras atividades ou tarefas que são realizadas. Para obter sucesso na carreira, o técnico tem que fazer com que seus atletas saibam distinguir na alma a diferença da vitória para a derrota, acreditando que a distância entre elas é infinita. O técnico mesmo que trabalhe com toda uma comissão técnica, não deixa de ser uma pessoa solitária, pois é obrigado a deixar a família e os amigos em segundo plano por causa de viagens e compromissos. Tem também que saber lidar com todo tipo de dificuldade e pressão, mas não deve em hipótese alguma abrir mão de sua filosofia de trabalho.

Particularmente, procuro desenvolver em meus atletas a união e o espírito de equipe, a definição de metas e objetivos para a temporada, o respeito aos direitos e deveres de cada um, a motivação do grupo através de palestras e exemplos de vida, a busca de soluções para os mais diferentes problemas e o comprometimento com o clube, a cidade e o patrocinador. Além disso, precisa também saber administrar as vaidades de cada atleta, convencendo-o que os objetivos da equipe estejam sempre acima de seus interesses pessoais. Independentemente de sua capacidade ou currículo, todo técnico tem virtudes e defeitos, mas alguns quesitos são fundamentais para se tornar um bom profissional: autenticidade, transparência, firmeza, sinceridade, simplicidade e humildade.

Em qualquer profissão, quando trabalhamos com determinação e abnegação, certamente a probabilidade de acerto e de sucesso é muito maior. Como sempre digo: “a diferença entre o fazer por fazer para o fazer com prazer é inigualável”. Outro detalhe importante para que um trabalho esportivo prospere é fazer com que seus atletas saibam conviver com os erros e defeitos de seus companheiros de equipe. Na minha vida profissional, trabalhando com vários jogadores, brasileiros e estrangeiros, de diferentes personalidades, me ensinou que quando temos um time que treina e joga com prazer, o acumulo de vitórias é muito maior que o de derrotas, os momentos de alegria e satisfação são muito maiores que os de decepções e tristezas.

Não resta dúvida que os treinamentos físicos, técnicos e táticos são fundamentais na preparação de uma equipe competitiva, mas quando o técnico consegue verdadeiramente implantar sua filosofia de trabalho, tudo se torna mais fácil, porque mesmo não conseguindo atingir as metas e os objetivos propostos durante a temporada, todos, principalmente seus atletas, se sentirão com a sensação do dever cumprido.

Erros e acertos

fevereiro 25, 2009

Após vencer Renato Brito Cunha na eleição de 1997, salvo engano, por apenas um voto de diferença, assumiu a presidência da Confederação Brasileira de Basketball (CBB), Gerasime Nicolas Bozikis, o popular Grego. Começava um novo ciclo administrativo do basquete brasileiro, dentro e fora das quadras. Na seleção masculina saiu Ari Vidal, dirigiu nossa equipe na Olimpíada de Atlanta conquistando o 6º lugar, entrando em seu lugar Hélio Rubens. Após conquistar o oitavo lugar no Mundial dos Estados Unidos em 2002, Hélio Rubens foi substituído pelo seu assistente-técnico, Aluisio Ferreira (Lula), que comandou o Brasil no Mundial do Japão, 2006, terminando a competição na 17º colocação. Após o pré-olímpico disputado nos Estados Unidos, Lula deixa o cargo e assume o espanhol Moncho Monsalve, o primeiro técnico estrangeiro a dirigir o selecionado brasileiro.

Na era Grego o Brasil conquistou três Pan-americanos (1999, 2003 e 2007) e três Sul-americanos (1999, 2003 e 2006), mantendo, bem ou mal, nossa hegemonia nessas competições. Em contrapartida, em Olimpíadas não conseguimos vaga desde 2000, em Mundiais estamos caindo na classificação a cada edição e para piorar a cada convocação alguns de nossos principais jogadores, inclusive os que estão na NBA, se recusam a defender nosso país. No Brasil, internamente, vivemos alguns feitos inusitados. Tudo começou com a criação da Nossa Liga de Basquete, liderada pelo ex-atleta Oscar Schmidt, em seguida veio a Associação dos Clubes de Basquetebol do Brasil (ACB do Brasil), que culminou com a criação da Liga Nacional de Basquete (LNB), numa fusão dos clubes do Comitê Executivo da CBB e da ACB do Brasil.

Atualmente, vários clubes, entidades, dirigentes e alguns órgãos da imprensa trabalham unidos para que o basquete volte a ser uma das principais modalidades do país. Vivemos, desde 1997, nosso pior ciclo olímpico, pois se o masculino não consegue mais uma vaga olímpica, a feminina também vem piorando sua participação a cada edição dos Jogos Olímpicos. Ressalto que, se com a bola nas mãos não estamos indo muito bem, no apito, o Brasil tem demonstrado muita qualidade, capacidade e competência nas principais competições internacionais, mantendo a retórica de termos uma das melhores arbitragens do mundo. Como vêm nos últimos dez anos tivemos momentos de alegrias e tristezas, comemorações e frustrações, de decisões acertadas e equivocadas, mas uma coisa é certa, o basquete brasileiro continua sendo um excelente produto para ser vendido e comercializado. Hoje, temos um campeonato com boa repercussão, boa visibilidade e retorno de mídia para seus patrocinadores.

Temos um bom índice técnico, tudo bem organizado, com credibilidade, demonstrando que quando um trabalho é feito com união, respeito aos clubes, transparência e humildade, a chance de sucesso é muito grande. O novo NBB, promovido pela LNB (Liga Nacional de Basquete), vem tendo todos esses predicados. Que este seja o primeiro passo para “revolucionarmos” o basquete brasileiro. Sempre mantive a esperança de ver novamente nossa modalidade ser tratada com atenção e carinho por todos, pela imprensa e principalmente pelo torcedor brasileiro. Isso, tenho certeza, está sendo resgatado pelo NBB.

Em minha modesta opinião, mesmo variando entre alguns acertos e muitos erros, nessa última década, o basquete brasileiro sobreviveu. Agora, temos que inverter o jogo, muitos acertos e pouquíssimos erros, desta forma, voltaremos a ser uma modalidade olímpica e a ter uma das melhores equipes do mundo.

Bolsa Atleta

fevereiro 13, 2009

Chegando para trabalhar no Conti/AMEA/Assis tomei conhecimento de uma lei municipal, a 4.570, denominada Bolsa Atleta, que prevê ajuda de custo para atletas vinculados a Autarquia Municipal de Esportes (AMEA). Rapidamente notei que os governantes assisenses se preocupam realmente com o desenvolvimento esportivo da cidade. A maioria dos políticos no Brasil vê o investimento em esporte como despesa, por esta razão virei “garoto propaganda” desta lei. Sempre que posso faço questão de divulgar, comentar e elogiar os governantes de Assis por manterem esta lei em plena atividade. Seu texto é simples, mas eficaz. Na prática dá um excepcional resultado, principalmente quando sua aplicação é feita de forma coerente, honesta, transparente e verdadeira. Esta lei deveria existir em todas as cidades do Brasil. Com ela, um atleta, não importa a modalidade, pode se dedicar integralmente aos treinamentos e recebe até cinco salários mínimos. Vejo de vez em quando alguém a criticá-la ou querendo alterá-la, procurando “chifre na cabeça de cavalo”, esquecendo que pode prejudicar um trabalho, um projeto ou até algum atleta. Infelizmente, isso é próprio de parte da classe política, esquecendo que a coerência é algo que as pessoas esperam da gente, não importando o segmento ou a atividade em que atuamos. Agora, na política ela é fundamental para aqueles que querem obter sucesso na carreira e até nas urnas. Ser coerente é deixar de lado seus interesses pessoais e focar suas posições e opiniões naquilo que realmente é real e importante para a sociedade, discutir propostas e soluções dentro da razão e do equilíbrio, sempre com o objetivo de ajudar e nunca atrapalhar. Imagino os governantes brasileiros com sensibilidade para acreditar que o esporte é uma ferramenta excepcional de transformação da sociedade. Nosso país, hoje, estaria muito melhor. Teríamos menos violência, menos drogados, menos analfabetos e poderíamos até, quem sabe, ser uma potência olímpica em um curto espaço de tempo. Esporte é sinônimo de saúde e educação. Aliás, todos os últimos ministros da educação deste país, de Paulo Renato a Fernando Haddad, defendem o esporte como uma ferramenta de trabalho fundamental para melhoria do aproveitamento educacional e de sociabilização das crianças. Feliz a comunidade que tem governantes que investem no esporte, felizes são os assisenses que tem dirigentes abnegados que pelo esporte investem na educação de suas crianças e de sua juventude, que pensam em construir uma sociedade mais justa e igual, melhorando sensivelmente a qualidade de vida das pessoas e proporcionando também a sua população momentos de lazer e de confraternização. Considero a lei como está fantástica. Alterar ou acrescentar algum item no atual momento seria prejudicial, desnecessário e só agradará uma pequena minoria que torce pelo “quanto pior melhor”.

Técnico de basquete: missão ou profissão.

fevereiro 6, 2009

A história do basquete brasileiro traz em seus arquivos excepcionais técnicos que com o passar dos anos deixaram um legado até hoje reverenciado por muitas pessoas do esporte e da imprensa. Qualquer “basqueteiro” tem na memória técnicos renomados como Moacir Daiuto, Togo Renan Soares (Kanela), Pedro Murilla Fuentes (Pedroca) ou Ary Ventura Vidal. Dos citados, vivo e curtindo sua aposentadoria, o carioca Ary Vidal, com o qual tive o prazer e a honra de trabalhar na equipe mineira do Unit/Uberlândia. A Confederação Brasileira de Basketball (CBB), mantém no seu site: http://www.cbb.com.br, o ranking oficial de todos os técnicos que trabalharam nos campeonatos nacionais a partir de 1990.

Nos últimos 18 anos (1990 a 2007) 109 diferentes técnicos dirigiram as equipes participantes de campeonatos nacionais. Neste período os técnicos que mais dirigiram foram: – Hélio Rubens: 566 jogos; – Enio Vecchi: 351 jogos; – José Roberto Lux (Zé Boquinha): 319 jogos; – Aluisio Ferreira (Lula): 310 jogos; – Jorge Guerra (Guerrinha): 296 jogos; – Claudio Mortari: 290 jogos; – Marco Antonio Aga: 281 jogos; e Alberto Bial: 277 jogos. Destes oito que mais atuaram apenas Zé Boquinha não está em atividade dentro das quatro linhas, mas vem realizando um belo trabalho de comentarista de basquete e de futebol na ESPN-Brasil. Toda profissão, independente qual seja, tem suas dificuldades e problemas, mas trabalhando a vinte e quatro anos consecutivos como técnico de basquete, possa afirmar que em nosso país, essa não é uma tarefa fácil.

Na maioria das vezes, temos que ter dedicação redobrada no trabalho, “suar sangue” e “fazer das tripas coração” para que um projeto se desenvolva ou prospere. Legalmente, acreditem se quiserem, nem mesmo a profissão de técnico de basquete existe no Brasil. Nos últimos anos, com a criação e a obrigatoriedade de todo profissional do esporte possuir o registro do CREF (Conselho Regional de Educação Física), melhorou bastante nossa profissão no aspecto de valorização, respeito e credibilidade, mas ainda falta muita coisa para que possamos nos sentir verdadeiramente profissionais legalizados em nosso país. Agora, na atividade de técnico de basquete, para ter sucesso, o profissional tem que possuir e manter algumas características indispensáveis: liderança frente aos seus atletas, poder de convencimento, transparência, honestidade, ser criterioso em suas atitudes e motivar ao máximo seus comandados. Tem que ter estilo próprio, não adianta querer imitar qualquer outro técnico porque existe uma composição oculta de personalidade e de caráter individual que não tem como ser imitada.

Uma característica do técnico brasileiro é “encarnar” demais o projeto de uma cidade ou de um clube, levando à confusão se o trabalho é realmente de uma coletividade ou se depende de suas ações pessoais. Poderia citar alguns exemplos vivos desta relação clube/cidade/técnico que só deram certo ou perduraram enquanto a pessoa do técnico se manteve presente de forma ativa e participativa. Em muitos lugares, liderados por algum técnico, os trabalhos ou projetos que perduraram ou prosperaram por vários anos não se preocuparam somente com a conquista de títulos, mas com a massificação da modalidade em todo o município, com a manutenção de escolinhas de basquete, com a formação de novos atletas, a revelação de novos talentos, sempre pensando em realizar um trabalho esportivo com objetivos educacionais e sociais.

Vendo as coisas assim, como diz o título deste artigo, tenho dúvidas se ser técnico de basquete é realmente uma profissão, um legado ou uma missão. Particularmente, não vejo muita diferença, acho até que as duas afirmações estão corretas, porque em um país onde a política esportiva adotada pelo governo deixa muito a desejar, o técnico tem que exercer sua atividade com muito sacrifício, desprendimento e abnegação, assumindo intimamente, além de sua responsabilidade profissional, o compromisso de exercer uma missão que satisfaça sua consciência, seus objetivos e seus princípios de vida.

Justa homenagem

fevereiro 2, 2009

Dia 31 de janeiro comemoramos cinqüenta anos da primeira conquista do título mundial de basquete masculino. Dos doze atletas que estavam no Mundial de 1959, disputado no Chile, seis, continuam entre nós: Amaury Pasos, Edson Bispo, Jathyr Schall, Pedro da Fonseca (Pecente), Waldyr Boccardo e Wlamir Marques. Em novembro do ano passado, durante a realização dos Jogos Abertos do Interior, realizado na cidade de Piracicaba, os primeiros campeões mundiais receberam uma linda homenagem da ESPN-Brasil, que na oportunidade contou com a presença do inesquecível Rosa Branca, mas que infelizmente veio a falecer no último mês de dezembro, deixando uma enorme lacuna e muita saudade a todos nós. Para comemorar esta data tão importante a Liga Nacional de Basquete (LNB) promoveu uma homenagem a todos os campeões durante o jogo entre Universo/Brasília e GRSA/Bauru, válido pelo NBB, que aconteceu no Distrito Federal, com ampla cobertura da SPORTV. Houve também uma homenagem póstuma aos atletas Fernando de Freitas (Brobró), Carmo de Souza (Rosa Branca), José Maciel Senra (Zezinho), Otto da Nóbrega, Waldemar Blatkauskas e Zenny de Azevedo (Algodão). A homenagem foi marcante e emocionante, “decorada” com uma partida do inédito NBB, a solenidade ficou mais bonita ainda, devendo ficar eternizada para sempre na memória dos amantes do basquete. Poder até ser ironia do destino, mas comemorar cinqüenta anos de uma conquista histórica do nosso basquete na mesma época em que nossa modalidade passa por um momento de mudanças, transformação ou até mesmo uma “revolução” no aspecto administrativo e estrutural, onde os clubes pela primeira vez estão organizando seu campeonato, não deixa de ser um fato pitoresco e curioso. Fico imaginando nossos campeões mundiais se lembrando do hasteamento da bandeira brasileira ao som do hino nacional, culminando com a emoção, choro e comemoração de se conquistar um título mundial inédito. Ser campeão já não é fácil, ser campeão do mundo então, é muito mais difícil. Nossos campeões mundiais têm que se sentirem orgulhos, vaidosos e mesmo se tiverem que deixar a modéstia um pouco de lado, tem que se sentirem verdadeiros heróis do esporte brasileiro.  Aos atletas que já não estão entre nós, quero através do meu eterno amigo e conselheiro Rosa Branca homenagear a todos eles, verdadeiros ícones do esporte brasileiro e orgulho para todos os seus familiares. Fico muito feliz com a iniciativa da LNB de prestar esta homenagem, porque o esporte brasileiro, às vezes, tenho muitos exemplos que me comprovam isso, se esquece de homenagear e exaltar tantos heróis que fizeram a história do nosso esporte. Muitos lutaram, suaram a camisa, colecionaram grandes vitórias e conquistas, mas na maioria das vezes não tiveram o mínimo de reconhecimento daquilo que fizeram ou construíram em favor de sua modalidade esportiva. Hoje, nosso basquete está passando por um momento diferente, até esta merecida homenagem comprova do que estou falando, vamos aproveitar tudo isso para continuarmos unidos e motivados a dar um novo rumo e um futuro melhor para nossa modalidade. Sei que a transformação que o nosso basquete tanto precisa e que tanto sonhamos deverá vir de forma lenta e gradativa, mas não importa, o que importa é que ela aconteça e que seja desfrutada, vivida e aproveitada um pouco por todos nós, mas principalmente pelos nossos filhos, nossos netos e por futuras gerações.